a sinuca de bico da semântica
EDUCAÇÃO


Ei, você! Me diga uma coisa: qual foi a última vez em que você esteve em uma sinuca de bico? Caso você não saiba o que essa expressão significa, o que eu duvido muito, lá vai uma breve explicação. Estar em uma sinuca de bico significa que você está em uma situação em que não há para onde fugir, como em um beco sem saída.
Essa analogia, inclusive, vai nos servir muito bem para o papo que vamos ter aqui, porque, deste lado, eu estou em uma tremenda sinuca de bico!
Enquanto você pensa na última vez em que se viu em um impasse, mais uma pergunta: qual o significado do termo significado? Já parou para pensar?
Questões como essa são estudadas pela semântica, uma parte da linguística que procura compreender o significado das palavras e a interpretação de frases em seus devidos contextos. O problema é que nem na ciência há consenso sobre o que é esse tal de significado, ou seja, a semântica se faz sinuca de bico quando depende justamente de significados que a decifre.
… mas vamos nos ater aos fatos, não às dúvidas. No jogo da semântica, há três lances:
Existe a semântica formal, que descreve o problema do significado a partir das estruturas lógicas da língua.
Existe a semântica de enunciação, na qual a linguagem é um combustível para compreendermos melhor o que há além dela.
E existe a semântica cognitiva, que basicamente explica que a forma vem da significação, ou seja, a partir da construção de significados que aprendemos inclusive sobre lógica e linguagem.
Aposto que você quer saber como isso tudo funciona na prática, né?
Somos ininterruptamente impactados por mensagens de variados tipos, de sons a textos. A semântica cuida de traduzir esses significados por meio de muitos vieses.
Ela diferencia o sentido real, a denotação, do sentido figurado, a conotação. Um coração de pedra no sentido conotativo representa uma pessoa fria, enquanto no denotativo representa, literalmente, um coração feito de pedra.
Pausa dramática para uma informação importante. Quando o assunto é semântica, três palavrinhas muito parecidas podem confundir a sua cabeça.
Quando você ouvir falar de significado, estamos falando da relação imagética mental que você faz de uma sentença. Quando for a vez do significante, entenda como os aspectos sonoros e gráficos desta sentença. Signo, por sua vez, é justamente a soma de significado e significante.
Se as coisas embaralharam um pouco na sua cabeça, leia novamente até entender. Vamos precisar disso para continuar, ok?
Da relação de amor e ódio entre significante e significado, surge o que chamamos de aspectos semânticos. Pega papel e caneta porque tem palavra difícil vindo aí!
Sabe quando uma palavra tem vários significados? Polissemia é o fenômeno que explica isso. Por exemplo, manga pode ser uma fruta ou uma parte da roupa. Ou cabeça, que pode ser um membro do corpo humano ou a parte superior de um prego. Nossa língua é cheia delas, viu?
Já ficou na dúvida entre concerto com "c" ou conserto com "s"? Este é um exemplo de homonímia, mais especificamente de sentenças homófonas (quando existem diferenças na grafia) dentro desse aspecto da semântica. Há também as palavras homógrafas, quando a pronúncia e o significado delas são distintos, apesar de serem iguais na grafia.
Quando eu vou almoçar, eu como o almoço.
Quando eu vou comer, eu almoço.
Ah, também tem as homonímias perfeitas, quando tudo, absolutamente tudo é igual.
As irmãs da igreja, que são devotas a São Sebastião, estão surpresas com a recuperação do padre, que se curou da gripe e já está são.
Bora pra próxima! Sabe quando você está escrevendo um texto e acessa o sinonimos.com para que ele não fique repetitivo? Você fica diante de várias sinonímias, palavras diferentes com significados iguais, como matar e assassinar, belo e bonito, e por aí vai.
Também quem é do contra, como a antonímia: palavras diferentes com significados opostos.
Feio e bonito, seco e molhado…
Existem aquelas palavras que sempre precisam de um confere no dicionário, como eminente e iminente ou ratificar e retificar, que são somente parecidas, com significados bastante distintos.
Tá anotando tudo, né? As palavras não são simples, mas a gente jura que com a prática você pega rápido!
Uma outra relação importante da semântica acontece entre os hiperônimos e os hipônimos. De forma geral, os hipônimos são sentenças mais específicas, enquanto os hiperônimos são mais generalistas.
Na frase “Subi na amendoeira e só desci da árvore quando anoiteceu", a amendoeira é o hipônimo (específico) e a árvore o hiperônimo (generalista). Fácil, né?
A semântica também olha para palavras meronímias e holonímias. Explico:
Na frase “a parede da minha casa está feia", a parede é um elemento merônimo, pois faz parte da casa, que é um elemento holônimo. A mesma relação pode ser feita com a sinuca, aquela que ficamos no bico no início: a caçapa é um merônimo da sinuca.
Espero que você tenha aprendido um pouco sobre o que é a semântica e como ela se apresenta no nosso dia a dia. Utilize esse material sempre que você quiser apontar para algum tema em busca de uma resposta, assim como uma bola de bilhar no alvo dos seus olhos.
Bons estudos!