roupas na máquina

CRÔNICAS

gabis

1/7/20251 min read

Estou sentado no amarelo. São tantas cores ao meu redor que me sinto sufocado. Pela luz, pela bagunça e pelas minhas mãos, que há muito estão incapacitadas de fazer o que é preciso; de acariciar meu próprio cabelo.

É realmente estranho como tenho a sensação do fim do mundo. Como se nada fizesse sentido e como se a próxima hora ou minuto estivesse distante e quase inalcançável. Mais rápido que os ponteiros, meu coração não para e dá compasso a tantos sentimentos de cores que me endurecem — no pior sentido da palavra.

Não fazer nada é delicioso quando é opção. Não fazer nada por não ter forças é desespero, confusão e desastre. Enxergamos o pior da gente e nem sempre ele existe. É como se estivéssemos num quarto de espelhos que distorcem a realidade. Algumas pessoas tentam abrir a porta e tirar a gente daquilo. Quando conseguem, é incrível ver o mundo fora dos espelhos, mas o destino brinca com nossas pernas e nos faz voltar pra lá.

Sinto que agora, sob o amarelo e diante uma paleta diversa, eu preciso de companhia. Não sei do quê, de quem ou como, mas preciso. Preciso por já não ter a minha e por esperar que algum outro, seja quem for, me tire desse lençol sujo. Aliás, minhas roupas estão na máquina há 4 dias porque me faltou força de tira-las de lá. Toda semana isso acontece.

Espero realmente que os tons mudem e que os momentos longe dos espelhos sejam cada vez maiores. Tenho buscado ajuda mas o caminho é perigoso e cheio de armadilhas. É como se os espelhos adorassem me ver caindo, quebrando o rosto e a superfície. Mas eu tento. Hoje consegui menos mas aguardo o amanhã com ansiedade. Quem sabe amanhã seja melhor.

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