sobrancelhas levantadas

CRÔNICAS

gabis

2/21/20251 min read

Eu não sei como vai ser daqui para frente. Não considero o passado, na maioria das vezes, e vivo o presente no automático. Dirijo tudo com os olhos fechados por faltar força para deixá-los abertos.

Sinto um aperto que os faz arregalar. Com eles arregalados, sinto um vulcão no peito capaz de botar fogo em tudo. Ou de tirar o fogo de tudo. É como se algo dentro de mim sempre estivesse em constante ebulição.

Os dias não são mais inteiros. Não vejo diferença nas terças e quintas, meus dias favoritos quando criança. Hoje não degusto o sal, o tempero e nem as milhares de mini-sensações gostosas de mini-coisas que nos deixam felizes.

Eu não me vejo. Quando encaro minha imagem no espelho, ignoro o tamanho do buraco que esconde a pele. Ignoro o turbilhão que me toma conta, ligo uma chave e me faço andar. E comer. E trabalhar. E atuar um personagem de mim mesmo.

A dor já não me dói. Não da forma que deveria. Ela chega até mim como um peso insuportável. Uma onda que anda nos meus confins fazendo tudo ficar mais lento e perder o desejo. Acelera por fora e quase para por dentro; dá pilha ao imaginário e impede o real.

Sei que lamento muito, mas não vejo muito o que fazer. Lá no fundo, ou nem tão fundo assim, sei onde e como achar pelo menos alguns por cento das soluções para fazer o vulcão ficar estável. Mas já me queimou tanto que minhas mãos não conseguem me erguer do chão, limpar minhas lágrimas ou qualquer outro fluido que escorre de mim.

Sinto que ainda há beleza na vida, nos pássaros, nas TVs, nas câmeras e nas palavras, só que meus olhos estão cansados e não reconhecem mais isso. Porque se fecham. Porque se abrem desesperados. Porque não sabem se equilibrar. Porque estão sempre molhados.

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